Matéria publicada pelo Jornal O Popular - Goiás , em Julho de 2013
Pesquisa mostra que 33% dos moradores de Goiânia usa medicação de tarjas preta e vermelha sem receita.
Cerca de 33% da população de Goiânia consome medicamento controlado, tarja preta ou vermelha, sem prescrição médica.Segundo dados de pesquisa realizada pelos Institutos Datafolha e de Pós-graduação para Farmacêuticos (ICTQ) em 12 capitais brasileiras, o porcentual goiano é superior à média nacional, de20%,e só fica atrás do índice verificado em Fortaleza (CE), com 38%.
A presidente do Conselho Regional de Farmácia de Goiás(CRF-GO), Ernestina Rocha, se diz surpresa com o resultado. “Nos últimos anos, conselhos e vigilâncias aumentaram a fiscalização em torno da venda ilegal. A obrigatoriedade do farmacêutico no estabelecimento também visa garantir essa venda controlada”, argumenta.
Mesmo com o controle rigoroso, é possível comprar remédios sem receitas até mesmo através da internet. Em sites de busca, a reportagem do POPULAR encontrou diversos anúncios de empresas que vendem os remédios controlados, sem nenhum controle especial. Uma farmacêutica, que preferiu não se identificar, contou como as farmácias conseguem vender caixas de medicamento sem receita. “Muitas vezes, um cliente chega com receita para três caixas, mas acaba levando somente uma. Retemos a receita e separamos as outras duas caixas autorizadas para vender sem a indicação”. Ela também avalia a fiscalização como falha. “Estou há um ano no mesmo estabelecimento e até hoje não tivemos visita da vigilância sanitária. O conselho só fiscaliza a presença do farmacêutico”, revela.
O jornalista Heitor Freitas faz parte deste grupo de goianos que se automedicam. Ele já fez uso de Rivotril. “Tomei por conta própria. Cursava duas faculdades, vivia sobre pressão, não conseguia dormir, tinha taquicardia e o médico falou que era estresse. Minha amiga tinha a receita e comprava para nós dois”, conta. A substância, que deve ser vendida apenas com retenção de receita, é prescrita por psiquiatras a pacientes em crise de ansiedade – nos casos em que o sofrimento tenha causa bem definida – mas tem sido usado para situações do dia a dia, como pressões, prazos e insônias, entre outros. Em 2008, o ansiolítico foi o segundo medicamento mais vendido no País, batendo aqueles de uso corriqueiro, segundo o IMS Health, instituto que audita a indústria farmacêutica.
Segundo o diretor-executivo do ICTQ, Marcus Vinícius Andrade, os estudos para mapear a medicalização da população são de extrema importância na conscientização de consumidores e nas ações estratégicas do Ministério da Saúde e órgãos reguladores, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Os medicamentos são formulados para prevenir, aliviar e curar doenças. No entanto, estes produtos farmacêuticos, mesmo aqueles isentos de prescrição médica, quando consumidos de forma irracional podem produzir efeitos colaterais indesejáveis e danosos. Essa dualidade é significativa para asaúde pública”, afirma.
COM RECEITA
A compra sem prescrição não é o único problema enfrentado hoje. Muitos fazem o uso de medicamentos controlados sem necessidade ou para um motivo além da sua real indicação, e conseguem a receita médica. Nem todos os profissionais se mostram tão rígidos. A vestibulanda Juliana Mendonça, concorre a uma vaga para Medicina, não tem transtorno nem déficit de atenção, mas faz uso do tarja preta Metilfenidato para enfrentar longos períodos de estudo e provas. Ela conseguiu a receita com seu médico. “Falei para ele que estava cansada e que a maioria dos meus colegas que queriam medicina também usavam para se concentrar. Ele não viu problemas e me passou a receita”, informa.
RISCOS
Para o presidente do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), médico psiquiatra Salomão Rodrigues Filho, a fiscalização às farmácias e outros locais que comercializam medicamentos deixa a desejar. “Também enfrentamos o problema da clandestinidade. É possível comprar remédios importados irregularmente, proibidos ou não, até mesmo nos camelódromos”,diz.
O presidente do Cremego defende que todo medicamento deveria ser de uso controlado e justifica sua posição com o velho ditado: “A diferença entre um medicamento e o veneno é a dosagem”. Ele ressalta que o uso sem a indicação adequada pode causar reações adversas, danos irreversíveis a saúde, dependência e até mesmo a morte.
Os medicamentos controlados não levam esse nome por acaso. Precisam ter indicação clínica analisada e dosagem recomendada. O médico reforça também que o indicado para uma pessoa pode não ser o melhor para outra. No caso de profissionais que prescrevem esses medicamentos sem filtros, Salomão afirma que estão sendo imprudentes e que a indicação imprecisa, principalmente de antidepressivos, calmantes e psicoestimulantes, pode levar à indução de quadros psiquiátricos.
FARMÁCIA VISTA COMO MERCADO
A pesquisa realizada pelos Institutos Datafolha e de Pós-graduação para Farmacêuticos (ICTQ) também analisou o perfil dos compradores em farmácias sob diversos ângulos, como grau de importância da presença do farmacêutico nos estabelecimentos, identificação do farmacêutico, imagem das farmácias, entre outros dados. Dos entrevistados, 74% declararam ir à farmácia pelo menos uma vez ao mês. Outro fator que chamou a atenção do ICTQ foi, segundo o diretor-executivo Marcus Vinícius, foi a forma com que o usuário vê as farmácias. “Muitos enxergam nas drogarias um supermercado de livre compra, em que podem adquirir medicamentos como se fossem balas ou refrigerantes”,analisa. Segundo o levantamento, 94%dos brasileiros vêem a farmácia como um minimercado ou loja de conveniência e apenas 16% como estabelecimento de saúde. Em Goiânia, este porcentual é de 76% e 24%, respectivamente. O ICTQ também percebeu que, quando o uso de determinado medicamento provoca efeito colateral, a maioria dos entrevistados, 25%, procura auxílio junto ao farmacêutico. Somente 7% notificam a Anvisa.
Pesquisa mostra que 33% dos moradores de Goiânia usa medicação de tarjas preta e vermelha sem receita.
Cerca de 33% da população de Goiânia consome medicamento controlado, tarja preta ou vermelha, sem prescrição médica.Segundo dados de pesquisa realizada pelos Institutos Datafolha e de Pós-graduação para Farmacêuticos (ICTQ) em 12 capitais brasileiras, o porcentual goiano é superior à média nacional, de20%,e só fica atrás do índice verificado em Fortaleza (CE), com 38%.
A presidente do Conselho Regional de Farmácia de Goiás(CRF-GO), Ernestina Rocha, se diz surpresa com o resultado. “Nos últimos anos, conselhos e vigilâncias aumentaram a fiscalização em torno da venda ilegal. A obrigatoriedade do farmacêutico no estabelecimento também visa garantir essa venda controlada”, argumenta.
Mesmo com o controle rigoroso, é possível comprar remédios sem receitas até mesmo através da internet. Em sites de busca, a reportagem do POPULAR encontrou diversos anúncios de empresas que vendem os remédios controlados, sem nenhum controle especial. Uma farmacêutica, que preferiu não se identificar, contou como as farmácias conseguem vender caixas de medicamento sem receita. “Muitas vezes, um cliente chega com receita para três caixas, mas acaba levando somente uma. Retemos a receita e separamos as outras duas caixas autorizadas para vender sem a indicação”. Ela também avalia a fiscalização como falha. “Estou há um ano no mesmo estabelecimento e até hoje não tivemos visita da vigilância sanitária. O conselho só fiscaliza a presença do farmacêutico”, revela.
O jornalista Heitor Freitas faz parte deste grupo de goianos que se automedicam. Ele já fez uso de Rivotril. “Tomei por conta própria. Cursava duas faculdades, vivia sobre pressão, não conseguia dormir, tinha taquicardia e o médico falou que era estresse. Minha amiga tinha a receita e comprava para nós dois”, conta. A substância, que deve ser vendida apenas com retenção de receita, é prescrita por psiquiatras a pacientes em crise de ansiedade – nos casos em que o sofrimento tenha causa bem definida – mas tem sido usado para situações do dia a dia, como pressões, prazos e insônias, entre outros. Em 2008, o ansiolítico foi o segundo medicamento mais vendido no País, batendo aqueles de uso corriqueiro, segundo o IMS Health, instituto que audita a indústria farmacêutica.
Segundo o diretor-executivo do ICTQ, Marcus Vinícius Andrade, os estudos para mapear a medicalização da população são de extrema importância na conscientização de consumidores e nas ações estratégicas do Ministério da Saúde e órgãos reguladores, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Os medicamentos são formulados para prevenir, aliviar e curar doenças. No entanto, estes produtos farmacêuticos, mesmo aqueles isentos de prescrição médica, quando consumidos de forma irracional podem produzir efeitos colaterais indesejáveis e danosos. Essa dualidade é significativa para asaúde pública”, afirma.
COM RECEITA
A compra sem prescrição não é o único problema enfrentado hoje. Muitos fazem o uso de medicamentos controlados sem necessidade ou para um motivo além da sua real indicação, e conseguem a receita médica. Nem todos os profissionais se mostram tão rígidos. A vestibulanda Juliana Mendonça, concorre a uma vaga para Medicina, não tem transtorno nem déficit de atenção, mas faz uso do tarja preta Metilfenidato para enfrentar longos períodos de estudo e provas. Ela conseguiu a receita com seu médico. “Falei para ele que estava cansada e que a maioria dos meus colegas que queriam medicina também usavam para se concentrar. Ele não viu problemas e me passou a receita”, informa.
RISCOS
Para o presidente do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), médico psiquiatra Salomão Rodrigues Filho, a fiscalização às farmácias e outros locais que comercializam medicamentos deixa a desejar. “Também enfrentamos o problema da clandestinidade. É possível comprar remédios importados irregularmente, proibidos ou não, até mesmo nos camelódromos”,diz.
O presidente do Cremego defende que todo medicamento deveria ser de uso controlado e justifica sua posição com o velho ditado: “A diferença entre um medicamento e o veneno é a dosagem”. Ele ressalta que o uso sem a indicação adequada pode causar reações adversas, danos irreversíveis a saúde, dependência e até mesmo a morte.
Os medicamentos controlados não levam esse nome por acaso. Precisam ter indicação clínica analisada e dosagem recomendada. O médico reforça também que o indicado para uma pessoa pode não ser o melhor para outra. No caso de profissionais que prescrevem esses medicamentos sem filtros, Salomão afirma que estão sendo imprudentes e que a indicação imprecisa, principalmente de antidepressivos, calmantes e psicoestimulantes, pode levar à indução de quadros psiquiátricos.
FARMÁCIA VISTA COMO MERCADO
A pesquisa realizada pelos Institutos Datafolha e de Pós-graduação para Farmacêuticos (ICTQ) também analisou o perfil dos compradores em farmácias sob diversos ângulos, como grau de importância da presença do farmacêutico nos estabelecimentos, identificação do farmacêutico, imagem das farmácias, entre outros dados. Dos entrevistados, 74% declararam ir à farmácia pelo menos uma vez ao mês. Outro fator que chamou a atenção do ICTQ foi, segundo o diretor-executivo Marcus Vinícius, foi a forma com que o usuário vê as farmácias. “Muitos enxergam nas drogarias um supermercado de livre compra, em que podem adquirir medicamentos como se fossem balas ou refrigerantes”,analisa. Segundo o levantamento, 94%dos brasileiros vêem a farmácia como um minimercado ou loja de conveniência e apenas 16% como estabelecimento de saúde. Em Goiânia, este porcentual é de 76% e 24%, respectivamente. O ICTQ também percebeu que, quando o uso de determinado medicamento provoca efeito colateral, a maioria dos entrevistados, 25%, procura auxílio junto ao farmacêutico. Somente 7% notificam a Anvisa.
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