Matéria publicada no Jornal O Popular, no dia 31 de Março de 2013
Mesmo Goiás sendo o 2º maior produtor de genéricos do País, o consumo destes medicamentos em Goiânia é menor que em outras capitais, conforme mostra estudo.
Mesmo Goiás sendo o 2º maior produtor de genéricos do País, o consumo destes medicamentos em Goiânia é menor que em outras capitais, conforme mostra estudo.
Por Lúcia Monteiro
Sempre que seu médico prescreve alguma receita, o sonoplasta Milton Ferreira da Silva faz questão de comprar exatamente a marca indicada por ele, mesmo que o farmacêutico sugira um genérico por um preço menor. “Não gosto de nada paralelo, pois não acredito que tenha o mesmo efeito. Tenho medo”, justifica Milton. Ele conta que só faz opção por um genérico se a diferença de preço em relação a um remédio de marca foi muito grande mesmo. “Não consigo confiar que um genérico tenha mesmo 100% de eficácia”, diz o sonoplasta.
Consumidores como Milton, ainda desconfiados em relação aos genéricos, são mais comuns em Goiânia que em outras capitais do País. É o que mostra o 1º Levantamento Nacional do Perfil dos Consumidores de Medicamentos no Brasil, realizado pelo Instituto de Pós-Graduação para Farmacêuticos (ICTQ), em parceria com o Instituto Datafolha, em 12 capitais brasileiras. A pesquisa mostrou que, em Goiânia, 58% dos usuários de medicamentos consomem genéricos, contra 68% no restante do país.
Enquanto isso, o grau de confiança no medicamento de marca chega a 85% em Goiânia, contra 79% na média nacional. Isso acontece apesar de 76% dos consumidores goianienses terem o preço como critério de escolha das drogarias e farmácias. No caso da amoxilina, a diferença entre o preço do medicamento de marca e do genérico chegou a ultrapassar os 100% numa drogaria da capital: R$ 36,90 contra R$15,90.
RECEITA
A explicação pode estar em outro dado da pesquisa: em Goiânia, 57% dos consumidores escolhem o remédio por orientação médica, contra 48% no Brasil. “Em Goiás, esse peso da recomendação médica é muito grande”, ressalta o diretor executivo do ICTQ, Marcus Vinicius Andrade. O problema é que poucos médicos costumam receitar opções de genéricos.
Para Marcus Vinicíus, ainda existe uma certa desconfiança da classe médica em relação aos genéricos, mesmo com a intensificação dos esclarecimentos sobre a eficácia desses medicamentos. Ele acredita que os farmacêuticos também deveriam ser mais atuantes no esclarecimento à população de que o genérico passa por todos os testes de eficácia. “Sempre deveriam oferecer a opção do genérico mais barato, quando ela existir”, afirma.
Mas, mesmo quando são informados da existência da opção do genérico, muitos consumidores preferem pagar mais caro na hora de comprar por influência da receita médica. Na pesquisa, também chama atenção o fato do goianiense já confiar na indústria de genéricos. “Ele confia nos laboratórios de genéricos, mas temem optar por estes medicamentos”.
Para o diretor do ICTQ, o grande problema é a desinformação do consumidor. Além disso, há o peso do lobby dos propagandistas dos grandes laboratórios, que sempre influenciam consultórios médicos e farmácias.
ALTERNATIVA
O presidente do Sindicato do Comércio de Produtos Farmacêuticos de Goiás (Sincofarma), João Aguiar, informa que a procura por medicamentos genéricos é crescente e garante que as farmácias sempre oferecem essa outra opção ao consumidor. Mas existe uma defesa do médico em relação ao produto de marca. “A grande confiança no profissional leva muita gente a optar apenas por este medicamento, mesmo com a opção do genérico”, explica.
Essa realidade é confirmada pelo farmacista da Drogaria Genérica, Carlos Cezar de Souza. Segundo ele, são poucas as receitas médicas que trazem a prescrição de genéricos. Algumas contêm dois medicamentos genéricos e dois de marca e, mesmo assim, o consumidor faz questão de levar o que está na receita, por confiar muito no médico.
Carlos Cezar acredita que os medicamentos de referência fazem um trabalho muito forte de divulgação junto aos médicos, enquanto os laboratórios de genéricos e similares trabalham mais junto às drogarias, inclusive com bonificação. Para ele, os consumidores de maior instrução tendem a aceitar mais a troca de uma marca de referência por um genérico.
A secretária Elba Costa Correia não vê problemas em optar por um genérico, desde que seu médico não proíba a troca do medicamento prescrito. “Se ele falar que precisa obrigatoriamente ser aquele, não troco. Mas se ele não colocar nenhum objeção, eu prefiro levar o genérico que mais barato”, explica Elba. Mas, segundo ela, alguns médicos exigem a marca que deve ser comprada e proíbem a troca.
MUDANÇA CULTURAL
Mesmo assim, a participação dos genéricos no mercado de medicamentos cresceu um pouco: de 24,9% em 2011 para 26% em 2012, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (PróGenéricos), com base nos dados da IMS Health. Segundo a entidade os genéricos são, em média, 50% mais baratos.
Para o diretor presidente do Laboratório Teuto, Marcelo Herique Leite, há um processo normal de crescimento dos genéricos no mercado, que é mais forte no Sul e Sudeste do país. Isso porque, nessas regiões, onde a troca de informações é mais rápida, já houve maior conscientização em relação à eficácia dos genéricos ser compatível com os medicamentos de marca. “Independente do grande pólo farmacêutico de Goiás, o consumo está ligado à mudança cultural dos médicos, que já começam a valorizar os genéricos”, avalia Marcelo.
Para ele, o que falta é maior divulgação da qualidade do genérico, que é exatamente igual à do remédio de referência. “Com o tempo, a tendência é de nivelamento”, prevê. Segundo ele, os medicamentos da marca Teuto já são levados para visitação técnica através dos propagandistas que trabalham para a Pfizer.
Fonte: Jornal O Popular
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